sábado, 31 de março de 2012

Little secrets



Esse texto não está disponível para todo mundo. Eu coloquei ele no fórum porque ele diz respeito a pessoas que não estão lá e, portanto, as pessoas que lerem isso não saberão de quem se trata, o segredo continua guardado. Por outro lado, muitos dos meu amigos estão lá. Eu somente coloquei o link aqui porque é um registro de como eu me sinto neste momento. Esses links se perdem fácil no fluxo de posts do fórum e achei importante tê-lo aqui como um marco.

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Edit em 14 de maio de 2012

Bem, eu me afastei um pouco do fórum onde essa postagem foi feita, a situação das pessoas envolvidas mudou um pouco e eu fiquei mais confortável com tudo o que eu escrevi o suficiente para expor aqui o texto completo. Eu só peço respeito por tudo isso, porque, afinal, não deixa de ser... pessoal demais.

Abuso Sexual
Antes de mais nada, avisar que esse post é muito mais desabafo do que debate. Eu pensei em postar no meu blog, mas eu senti que seria me expor demais e envolve terceiros que poderiam vir a ler isso, e não seria legal, e eu só não postei no D&D porque achei que as pessoas que poderiam lê-lo aqui de certa forma já saberiam o que ele contém e estariam mais dispostas.

Ontem uma amiga do mestrado me mandou um email pedindo ajuda porque ela está envolvida com um cara há mais de 3 anos e não conseguem desempatar o relacionamento porque ele tem medo de compromisso. Na quinta, ele contou para ela, meio que como quem não quer nada (no meio de uma conversa, ele citou o assunto, ela ficou chocada, ele disse que achava que já tinha contado para ela) que ele sofreu abuso sexual dos 6 aos 16 anos, praticado por um tio com quem ele convive até hoje. Ele tem 30 anos.

O que foi esse abuso não ficou claro, não sei o que ele falou exatamente para ela, mas ela traduziu para mim como uma "tentativa de abuso", e me perturbou o fato de uma tentativa de qualquer coisa durar 10 anos, e eu não sei se ela tentou amenizar para mim ou ele tentou amenizar para ela ou uma das duas partes ainda não está entendendo direito o que aconteceu. Ou eu não estou entendendo.

Ela não sabia como reagir e veio me pedir conselhos. Eu analisei a questão como alguém de fora para ela, dei conselhos, ela se sentiu melhor, eles estão conversando, ele está muito mal, mas acho que tudo isso é um processo que precisa ser resolvido entre eles. Quanto a mim, me restou o fato de que eu fui completamente tragada pelo assunto depois disso.

Inicialmente eu me senti mal porque não me via no direito de analisar a vida de alguém dessa forma, sem nem saber ao certo o que tinha acontecido. Eu escrevo muita fanfiction sobre o tema, mas é completamente diferente você prever como um personagem se sentiria nessa situação e as infinitas possibilidades de reação de uma pessoa real frente a isso. É muito delicado e de uma responsabilidade muito grande virar para ela e dizer "faça isso, diga aquilo, aja dessa forma, que vai fazer ele se sentir melhor". Não dá. E eu acho que ajudei, mas ainda estou incomodada e torcendo por eles.

Meu segundo movimento foi tentar me livrar de tudo o que isso me provocou e tudo o que me fez pensar de alguma forma. Eu tive um plot, eu transpus a situação real para uma ficcional, eu coloquei tudo em um universo que eu posso controlar, e eu teria escrito a fic no mesmo momento só para me sentir aliviada, mas eu não quis. Acabei mudando o plot, tirando a questão sexual, e ainda assim é um bom plot que eu vou escrever um dia, mas não hoje.

Minha terceira reação foi tentar saber mais. Eu queria achar um post da Diana aqui no fórum em que ela coloca um link para uma carta que ela escreveu, contando a história dela, e eu dizia para mim que eu queria mandar esse link para a minha amiga, mas acho que, de certa forma, eu mesma estou precisando reler essa carta. Mas não achei. Achei o link para o Unbreakable aqui e olhei o tumblr inteiro, quase chorando. E quando a Dark, com quem eu estava conversando no msn, veio me perguntar o que eu estava fazendo porque eu estava quieta, eu percebi que eu havia mergulhado nisso totalmente e que isso não era bom, porque eu tenho outras coisas para fazer e coisas mais importantes em que pensar e isso não deveria me monopolizar tanto ou me afetar tanto. 

E o fato de me monopolizar tanto e me afetar tanto me incomodou, porque não é a primeira vez que isso acontece. Em geral, qualquer caso que eu vejo sobre esse tema, sobre abuso, exploração sexual, pedofilia, me afeta imensamente, me tira muito do eixo e me faz pensar sobre mim em um ponto em que eu me perco fácil, porque tudo parece nebuloso e incerto e se resume a "não sei".

Eu não sei se eu já sofri abuso. 

Eu fui beijada a força duas vezes, aos 16 e aos 19 anos, as duas vezes por professores, homens muito mais velhos e figuras de autoridade para mim, de quem eu simplesmente não esperava isso. E foram dois beijos consecutivos - entre um e outro eu não fiquei com ninguém, o que eu acho que intensifica o fato. Mas o que mais me marca nisso é eu pensar nessas duas épocas específicas e ver o quanto eu era inocente. O quanto eu não soube como reagir, o quanto eu simplesmente virei as costas e corri, o quanto eu tive medo ao mesmo tempo em que eu me senti desejada de forma inusitada, o quanto isso era conflituoso porque eu ainda ficava envergonhada com brincadeiras de colegas com conteúdo sexual porque eu não conhecia minha própria sexualidade e o quanto esses dois beijos foram imensamente significativos e ao mesmo tempo imediatamente descartados quando eu faço minha lista de "experiências" simplesmente por eu não querer. Eu não queria. Não aconteceu pela minha vontade. Mas aconteceu e me marcou por isso, mesmo sendo só um beijo. E hoje, com o esclarecimento que eu tenho, com a maturidade que eu tenho, eu consigo me questionar se esse "foi só um beijo, não foi um abuso" na verdade é fruto dessa sociedade, mas o beijo foi comigo, e eu sou fruto dessa sociedade, então eu ainda estou confusa o suficiente para dizer que eu não sei se foi um abuso.

Meu próximo beijo depois desses foi legal. Foi com um mocinho em uma festa e foi consensual e bom e ele me deixou toda marcada, mas eu gostei. Dois meses depois, eu encontrei o mesmo mocinho em outra festa e eu queria mais, e nós saímos e começamos a nos pegar em um estacionamento fechado. Nós nos falamos bem pouco nesse processo todo e as coisas simplesmente foram acontecendo. Eu lembro de ter tocado nele por dentro da calça e ele fez o mesmo comigo e eu estava curtindo, mas ao mesmo tempo imensamente incomodada de estar com um estranho em um lugar como aquele fazendo algo tão íntimo. Eu não confiava nele o suficiente para chamar para ir para minha casa - eu não tinha dinheiro para nenhuma outra opção na época -, mas também não queria parar. Ele disse que queria transar comigo, eu estava consciente que nós já estávamos na metade do caminho para isso acontecer, mas eu era virgem, eu não queria que fosse daquela forma, eu nem tinha certeza se queria que fosse com ele, e eu disse não. No segundo seguinte, ele tinha mais força do que eu jamais imaginei que ele teria, e me prendia contra a parede, e o toque que até um momento atrás era bom, estava agora me machucando, e eu pedi para ele parar e ele não parou e eu entrei em pânico e disse que ok, a gente faria, mas precisávamos de camisinha. Ele disse que sim, que ia comprar, que era para eu esperar ali.

Essa é uma parte da história que eu nunca contei para ninguém, nem para minhas amigas que me ajudaram nos dias seguintes, nem para o médico que me examinou, nem para a minha psicóloga, mas neste momento ela me soa imensamente importante: eu esperei. Por menos de dois minutos, eu acho, mas eu estava pensando em tanta coisa naquele momento que eu simplesmente continuei ali até que um mendigo passasse e me dissesse qualquer coisa que me assustou e me fez começar a caminhar de volta para a festa, procurando um lugar mais movimentado. Nesse minuto, eu pensei que eu estava gostando antes de ele começar a ser um filho da puta e que talvez não fosse uma ideia tão ruim, que talvez não fosse a intensão dele me forçar, já que ele tinha simplesmente pedido para que eu esperasse, sem me obrigar a ficar ali, que talvez fosse eu quem estava sendo filha da puta com ele, já que eu tinha ido tão longe e agora simplesmente não queria ir até o fim.

Um amigo meu me encontrou, eu estava tremendo, ele perguntou o que estava acontecendo, eu pedi para ele me levar para casa, ele me levou, tentando conversar comigo no caminho, dizendo que a festa inteira era só um ritual social estúpido, e eu concordei com ele. Eu tive febre por duas semanas depois disso, mas não tive coragem de contar para nenhum dos dois médicos que eu procurei o que tinha feito. Muito tempo depois, eu admiti que eu demorei muito para entender o que tinha acontecido ali, e a Diana me disse que havia percebido isso desde o primeiro momento em que eu contei a história para ela. Assim como eu sinto que o namorado da minha amiga - ou a minha amiga - também não está entendendo o que aconteceu com ele.

O que veio antes desses 3 casos foi um primeiro beijo infeliz aos 15 anos, marcado por desencontros entre casais em que ninguém estava satisfeito com o final da noite. O que veio depois foi uma série de aventuras desesperadas com estranhos, impulsionadas por baixa auto estima e necessidade de provar algo, entre as quais minha virgindade se perdeu de forma muito diferente do que um dia eu ousei imaginar, e muito dinheiro gasto com vibradores para me manter sã e longe de problemas. Eu demorei para descobrir que sentia prazer, tenho dificuldades de lidar com meu corpo até hoje e ainda prefiro fazer isso sozinha porque tenho a impressão de que quando tiver que compartilhar isso com outra pessoa vai ser muito mais tenso e complicado.

Assim como o namorado da minha amiga, eu tenho problemas com relacionamentos. Eu nunca tive um e não estou perto de ter quando minha primeira resposta a qualquer tipo de aproximação é sempre "não" e eu preciso de muito esforço consciente para deixar que alguém se aproxime, e mais ainda para acreditar que esse alguém realmente gosta de mim. Neste exato momento, eu estou vivendo uma paixonite por um aluno (eu só não me permito me apaixonar de vez porque ele é meu aluno), e chego até a brincar de vez em quando sobre possibilidades de fazer ele perceber isso, mas pesa um forte sentimento de que eu não tenho chances, mesmo com toda a fleuma de ser "a professora ~~COOL~~" me ajudando.

Eu demorei muito tempo para ver o que aconteceu comigo como abuso e, mesmo hoje - literalmente hoje -, olhando o Unbreakable, eu não me sinto muito digna de dizer isso. Parece ao mesmo tempo que eu desvalorizo a dor do outro ou supervalorizo o que eu passei - porque, de alguma forma, mesmo vendo o quanto me afeta ainda, eu tenho tendência a pensar que foi só um beijo de um idiota e depois outro e depois um filho da puta que cruzou meu caminho e me deixou confusa, e depois uma série de merdas que eu fiz. Mas quando, em dias como hoje, algo vem e bate com o tema na minha cara de forma que eu não consigo pensar sobre outra coisa, eu fico perdida no que eu sinto, em todas as fics que eu já escrevi com prostituição e abuso, eu me pergunto o quanto de mim tem ali sem que eu nem percebesse, ou às vezes negando, e se eu tenho o direito de parar tudo o que eu preciso fazer hoje para deitar na minha cama e ficar simplesmente quieta alguns minutos, para tentar parar de pensar sobre isso. Só um pouco. Por que eu sinto que eu não sei mais nada.

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domingo, 11 de março de 2012

Não está valendo a pena

Essa postagem não tem imagem porque a melhor imagem que eu consegui pensar pra ela foi aquela cena de Titanic da Rose do lado de fora do navio e o Jack "se você pula, eu pulo". E, tipo, não.

Eu estava me sentindo sozinha. Isso basicamente todo mundo que lê o que eu posto aqui já sabe, 90% do que me leva a postar é estar no limite de certa forma e o principal fator que me leva a limites é me sentir sozinha. Mas, enfim, hoje eu estou me sentindo muito sozinha a ponto de estar deitada tentando dormir e começar a chorar, chorar de soluçar, e milhões de pensamentos, que iam do trânsito de São Paulo a Titanic e concluir que não vale a pena. Não está valendo a pena, simples assim. E eu vim escrever, porque eu preciso organizar e entender isso, simplesmente porque não é algo bom de se sentir.

Outro dia, nos dias de carnaval, eu estava em São Paulo, presa em um trânsito infernal na entrada da cidade, meio impaciente porque eu já tinha enfrentado mais de 4h de viagem e tudo o que eu queria era simplesmente chegar a algum lugar. Como o dom da ansiedade é te impedir de fazer qualquer coisa que te distraia do que te deixa ansioso, eu fiquei prestando atenção no trânsito. Na quantidade imensa de pessoas que estava ali, acumuladas naquele trecho de rua, querendo e ansiando fervorosamente pela mesma coisa, como uma imensa entidade formada por várias partes distintas que simplesmente não tinham consciência umas das outras.

Foi meio revelador, sério. Mas foi exatamente isso: a consciência do todo humano. De que, puta merda, olha quantas pessoas tem nesse mundo! E elas vivem e se trombam e trabalham em função umas das outras, e se cuidam e se amam e fazem o mundo funcionar pensando em fazer coisas boas para pessoas de quem gostam ou para si mesmas. TUDO acontece a partir, em torno e para pessoas. E elas não se percebem, não se tocam, não se veem, simplesmente fazem parte do seu quadrado, sem a dimensão exata do que isso significa.

Tanta gente no mundo, e eu ali me sentindo sozinha. E não é por falta de gente no meu quadrado. Eu tenho amigos. Tenho amigos no Rio Grande do Sul, no Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Recife, em Holambra, até em Bauru. Mas não tenho amigos para ligar de madrugada ou para ir ao cinema ou mesmo para quem eu possa preparar um almoço e chamar para tomar um vinho ou um café e falar um pouco sobre como eu me sinto bem com eles ou o que eu acho de Titanic ou sobre como a questão do bulling é tratada em Glee e como isso me afetou imensamente nessa semana. Ou mostrar meu vestido novo.

Não é que eu precise de alguém para mostrar meu vestido novo para ser feliz. Mas quando a coisa que te deixa mais feliz em toda a maldita semana é o vestido que você mal consegue pagar, é meio frustrante, sabe? Você pára e fica se perguntando o que realmente isso significa, pois, apesar do vestido ser lindo e você se sentir muito bem nele, é só um vestido. É só um trecho de um livro. É só uma cor nova nas suas unhas. É só um fim de série dramático que te faz chorar feliz.

Séries bobas tem me feito chorar. Comédias românticas bobas já me fazem chorar há anos, tanto que eu não assisto mais, mas quando um episódio de New Girl me fez chorar, eu achei a gota d'agua. Por que de repente tudo o que eu assisto inclui um grupo de amigos legais que, mesmo quando ta tudo indo por água abaixo, fazem a situação menos pior? Sim, eu sei que é pelo motivo que eu achei no trânsito e panz.

Quando eu parei de assistir comédias românticas porque eu queria um namorado e não tinha - naõ tenho -, eu lembro que tive uma longa e alien conversa com minha madrinha sobre o ideal de amor ser uma criação da indústria cultural e não existir de verdade. Eu conclui que eu preciso acreditar que existe, pelo bem da minha pele, mas hoje eu me vi questionando se grupos de amigos legais também não são criação da indústria cultural.

E tem gente que vai me dizer que eu preciso sair mais e conhecer pessoas e me distrair. Bem, eu sei disso, eu faço o que posso. Poderia ser um ciclo vicioso o "não tenho amigos pra sair - não saio - não faço amigos para sair", mas eu sou do tipo que vai em cinema e até em balada sozinha e quando não tem nada para fazer, pego um livro e sento em um café dando bandeira. Se eu fizer mais do que isso, vou sair oferecendo abraço no meio do calçadão. E eu não quero um abraço. Eu quero alguém que se importe comigo e que não se irrite de eu ligar de vez em quando para saber se está tudo bem. E, claro, se gostar de séries, cinema e gostar de sair pra comprar esmaltes de vez em quando, melhor.

Sendo sincera, eu não saio tanto assim. Mas aí vem o fato de que eu preciso estudar e trabalhar, como todo ser que não é autótrofo. Talvez um pouco acima da média dos seres não autótrofos, mas ainda assim nada assustador. Ficar em uma sala trancada com uma pilha de trabalho me faz me sentir mais sozinha, óbvio, especialmente quando a pilha de trabalho tem um prazo apertado para ser entregue e eu começo a entrar em pânico.

E hoje, além de entrar em pânico e chorar como uma criança, eu me questionei se valia a pena. E não é o valer a pena do tipo quero jogar tudo para o ar e viver de fazer pipa na praia. É um valer a pena que eu não sentia desde o ápice da fase emo dos meus 14 anos, e que eu sei que tem uma boa dose do Karofsky de Glee, que me deixou toda emocionada ontem.

É aquele momento em você se questiona o para que trabalhar tanto ou pegar tanto trânsito ou chorar tanto no travesseiro. É um momento em que eu vi todos os meus medos e inseguranças, eu vi minhas mãos ficando velhas e eu ainda sozinha, encarei todo o meu incômodo com meu corpo e até a mudança no fim do ano que parece tão perto e tão assustadora. E ver isso tão de perto, refletido nas lágrimas no travesseiro, é denso e pesado e difícil e te faz perguntar para que, afinal, você suporta e luta e acorda todos os dias e continua trabalhando e se esforça para a vida ser melhor dentro e fora do seu quadrado? Para onde eu estou indo, afinal, nesse congestionamento que não acaba nunca e em que ninguém se olha, em que ninguém me olha e me deixa dividir meus medos e minhas pequenas vitórias porque também divide as suas comigo, mesmo que seja só um elogio ao meu vestido.

Eu sei que é extremamente brega e eu tive uma luta interna sobre terminar ou não esse post assim, mas como a imagem que eu não coloquei, eu me sinto meio envergonhada de dizer que tudo o que eu precisava hoje era que alguém realmente se importasse, que me ajudasse a fazer valer a pena, que viesse para o outro lado da grade sem eu precisar pedir ou ligar mais uma vez implorando para ser ouvida, e me dissesse "se você eu pula, eu pulo, Rose".

sexta-feira, 2 de março de 2012

Toda Sarah é princesa



Eu ando ficando muito tempo em casa. Muito trabalho para fazer, processo de finalização do mestrado, todos os amigos morando longe, pouco dinheiro no bolso. Mas isso anda me deixando um pouco tensa. Passar dias sem ver ninguém de carne e osso além do meu vizinho pela janela ou sem falar com ninguém a não ser por telefone ou msn é, de uma certa forma estranha, desgastante. Eu não consigo explicar, mas acredito que seja algo fácil de entender esse stress por falta de convivência e sociabilização.

Além disso tudo, trabalhar em casa pode ser muito confortável, mas, principalmente para mim que moro sozinha, às vezes te faz esquecer coisas simples, como por exemplo o quão importante é tirar o pijama e que pentear o cabelo é algo legal, mesmo que você se descabele na frente do computador algum tempo depois.

Semana que vem eu volto a dar aulas e estou esperando ansiosamente por isso, pelo trabalho, pelo dinheiro e por sair de casa para fazer alguma coisa, mesmo que seja trabalhar. Ter um compromisso com alguém além de mim mesma, ver e conversar com pessoas diferentes. O máximo de compromisso que eu tenho hoje é ir à psicóloga uma vez por semana para falar principalmente sobre o quanto eu me sinto sozinha, entre outras coisas.

Hoje eu acordei inspirada. Coloquei um vestido de que eu gosto bastante e me deixa confortável, arrumei o cabelo de um jeito especial que aprendi a dar no corte novo, um tom meio retrô e bonequinha, bom de se usar com tiara. Me maquiei, tentei novas cores e uma técnica que vi nessa semana na internet que estava louca para usar, e coloquei sandálias, coisa que é raro eu usar. Estava me sentindo muito bem e bonita. E quando minha vizinha me viu saindo e comentou que hoje eu arrumaria um namorado, eu sorri, mas fiquei um pouco triste, porque me produzi toda para ir ao lugar menos provável de se arrumar um namorado. Bem que eu pensei em ir ao cinema depois da consulta ou a uma balada de noite, mas o fim do mês não me permite.

Estava chovendo. Eu disse para mim mesma, para meu vestido, minha maquiagem e minha sandália, que isso não seria um problema e saí. Mas estava chovendo muito e eu não cheguei nem na esquina sem que meu guarda chuva virasse do avesso e eu acabasse molhada. Estava atrasada para pegar o ônibus e, naquele passo, era certo que eu não ia conseguir. Voltei para casa, me sequei e chamei um táxi.

Obviamente eu não tinha dinheiro para o táxi. Chamei um taxista amigo, que vive me dando desconto e algumas cantadas, e aceita cartão. Eu não curto muito as cantadas, mas os descontos são bons e era a única forma de eu chegar a tempo na consulta a essa altura do campeonato. Pedi para ele passar em casa meia hora antes. Dez minutos antes ele não havia chegado. Eu liguei para ele, ele não poderia vir, e não se preocupou em me avisar com antecedência. Eu liguei para outro taxista, mas quando perguntei se ele aceitava cartão, ele riu no telefone, então simplesmente liguei para a psicologa e disse que não poderia ir hoje. O fato de que vou ter que pagar pela consulta mesmo assim me deixou meio puta com o mundo.

Sarah é um nome de origem bíblica que significa A Soberana, ou simplesmente Princesa. Quando eu era pequena, adorava andar por aí segurando as pontas da saia e saltitando e meus pais reclamam até hoje sobre a minha capacidade de ser fresca com certas coisas. Eu gosto do meu nome. Sei que não sou nenhuma princesa, ou ao menos não me entregaram meu reino e meu príncipe ainda, mas acredito que tem muito de ser Sarah em mim em dias como esse.

E, no entanto, o dia terminou, e eu nem consegui sair da minha abóbora.

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